Operação policial deixa cinco mortos e 23 presos na Maré; reação fecha vias expressas no Rio

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Operação policial intensifica clima de tensão na Maré

O Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, mais uma vez virou palco de violência e medo. Na manhã de ontem, uma megaoperação da Polícia Militar focada no combate ao furto e roubo de veículos deixou cinco pessoas mortas e 23 presas. O saldo pesado reacendeu a rotina já marcada por confrontos constantes entre forças de segurança e facções criminosas.

O objetivo anunciado da PM era desarticular quadrilhas especializadas em roubo de carros, mas a ação rapidamente virou território de guerra. Moradores relataram tiros contínuos desde as primeiras horas do dia, além da presença de blindados e helicópteros. Não demorou para que surgissem críticas à postura dos agentes, acusados de agir com força desproporcional em áreas habitadas majoritariamente por pessoas pobres e negras.

O Complexo da Maré, que abriga cerca de 140 mil pessoas divididas em 16 comunidades, já entrou para o noticiário inúmeras vezes por causa das operações pesadas. Apesar do discurso oficial de “proteção ao cidadão”, a sensação de violência e insegurança só aumenta a cada novo episódio.

Reação do tráfico paralisa a cidade

Reação do tráfico paralisa a cidade

Logo após o avanço da polícia, a reação veio das ruas: grupos ligados ao Comando Vermelho, facção que domina boa parte da Maré, fecharam três das principais vias expressas do Rio — Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil. Moradores flagraram barricadas, pneus queimando e motoristas oferecendo caronas improvisadas para tentar escapar do congestionamento gigante. O medo tomou conta, e muitos precisaram abandonar seus carros para buscar abrigo.

Esses bloqueios não são novidade, mas mostram como o tráfico usa o domínio territorial para pressionar e mostrar força diante do Estado. Para quem depende dessas vias para trabalhar ou estudar, o impacto foi imediato: horas presas no trânsito, comércio fechado e sensação de paralisia.

O Comando Vermelho, apontado por investigações como o maior responsável pelo tráfico na região, fortaleceu seu controle nas favelas por meio da intimidação armada e ataques à polícia. Não raro, confrontos como o de ontem terminam atingindo pessoas que nada têm a ver diretamente com a guerra entre policiais e criminosos — são crianças sem aula, trabalhadores impedidos de sair de casa e idosos trancados esperando o tiroteio passar.

ONGs e grupos de direitos humanos alertam para o risco de naturalizar esse tipo de intervenção. Pesquisas recentes mostram que a maioria das operações desse porte resulta em baixíssimo índice de apreensão de armas e drogas, mas alto número de mortos e feridos.

O episódio mostra como o ciclo de violência e resposta imediata só agrava a sensação de insegurança. Enquanto o Estado aposta na lógica da ocupação policial e os traficantes reagem com cerco urbano, moradores seguem à mercê, esperando que, amanhã, seja só mais um dia comum — com os mesmos riscos de sempre.