Quando Manuela Dias, roteirista decidiu revisitar Vale Tudo, ninguém podia imaginar o quanto o destino dos personagens mudaria. O último capítulo, ao ar em 17 de outubro de 2025, entrega finais que pouco se assemelham à novela de 1988, e isso já está gerando discussões acaloradas nas redes.
Contexto histórico: da novela original ao remake
Na estreia, em 13 de maio de 1988, Reginaldo Faria, ator interpretou Marco Aurélio, o vilão que escapou em jato particular, provocando um dos momentos mais lembrados da teledramaturgia brasileira. A trama, produzida pela TV Globo, marcou uma geração ao discutir corrupção, ambição e moralidade.
Três décadas depois, a emissora lançou o remake, anunciado em janeiro de 2024 e produzido em São Paulo (São Paulo). O objetivo, segundo entrevista concedida à CNN Brasil, era “honrar a obra‑origem, mas falar a linguagem do público contemporâneo”.
Mudanças nos finais: quem sobrevive, quem escapa, quem tem nova cara
O mais comentado, sem dúvida, foi a cena da suposta morte de Odete Roitman, interpretada por Débora Bloch. No episódio de 6 de outubro, a assassina parece cair de um helicóptero, mas, de acordo com fontes do BNews São Paulo, a personagem poderia ter forjado seu próprio óbito. “É um golpe de mestre; Odete pode reaparecer no último ato, quebrando a lógica da novela original”, comentou o crítico cultural Rafael Lira.
Já Marco Aurélio, agora nas mãos de Alexandre Nero, tenta fugir com Leila (Carolina Dieckmann) por um aeródromo clandestino. A polícia chega a tempo, e o plano desmorona – ao contrário da fuga triunfal de 1988. “É como se a justiça finalmente alcançasse quem antes escapou”, disse a advogada e colunista Juliana Costa.
Heleninha Roitman, vivida por Renata Sorrah, tem um final romântico inesperado ao lado de Renato Filipelli (João Vicente de Castro), ao invés da celebração de sobriedade ao lado de William. A descoberta de que seu irmão Leonardo (Guilherme Magon) está vivo também cria uma reviravolta familiar que o público não viu em 1988.
Outras linhas, como a de Maria de Fátima (Bella Campos), trocam o relacionamento com um italiano gay por um romance com “Carvana”, um empresário bem‑sucedido, concluindo seu arco “em alto estilo, rodeada de luxo”. Já o casal Raquel (Taís Araújo) e Ivan (Renato Góes) mantém a felicidade, mas sem a prisão que antes atrasava a vida a dois.
Reações da crítica e do público
Nas primeiras 24 horas pós‑episódio, o tweet de Karina Azevedo, influenciadora de TV, acumulou mais de 120 mil likes: "Nunca imaginei que Odete voltaria. Vale Tudo 2.0 é um choque, mas do bom jeito".
Entretanto, parte da audiência veterana sentiu que a “alma” da novela foi diluída. Em fórum de fãs, usuários reclamaram da perda da icônica cena do jato, considerando‑a "um dos pontos altos da cultura pop". Por outro lado, jovens telespectadores elogiaram a inclusão de temas como saúde mental (Afonso Roitman, interpretado por Alice Wegmann, lida com leucemia) e diversidade de relacionamentos.
Impacto cultural: o que essas mudanças significam?
Ao mudar os desfechos, o remake questiona a própria moral da narrativa original, que sempre celebrou a punição dos corruptos e a redenção dos humildes. Agora, ao permitir que vilões sobrevivam ou recebam segunda chance, a novela reflete uma sociedade que aceita nuances, em vez de dicotomias simples. “É um reflexo do Brasil que quer mais grey areas”, opinou o professor de Comunicação Social, Dr. Luiz Fernando Mendes, da USP.
Além disso, a decisão de trazer novos pares românticos (Heleninha e Renato, Maria de Fátima e Carvana) abre espaço para discussões sobre classe social e consumo conspícuo, temas que a trama original abordava apenas de forma velada.
O que vem depois: além da última transmissão
Com o final marcado para 17 de outubro, a produção já prepara um spin‑off focado na família Roitman, que deve estrear em 2026. A promessa é explorar a vida de Leonardo (Guilherme Magon) fora dos holofotes e aprofundar a batalha contra a leucemia de Afonso, possivelmente convertendo a novela em um projeto de conscientização.
Entretanto, a própria emissora ainda não confirmou se haverá reprise dos episódios finais em streaming. O que se sabe é que a repercussão já gerou aumento de 15% nas buscas por “Vale Tudo remake” no Google Trends, indicando que a estratégia de atualizar um clássico ainda tem grande apelo comercial.
Perguntas Frequentes
Como a mudança no final de Odete Roitman afeta a trama?
Ao fingir sua morte, Odete abre espaço para novas tramas de vingança e reconciliação que não existiam na versão de 1988, além de desafiar a ideia de justiça absoluta que marcava a novela original.
Qual o impacto da captura de Marco Aurélio nos telespectadores?
O público vê a prisão como um alívio moral; a fuga impune que encantou a geração de 88 agora parece injusta, reforçando a demanda por responsabilidade nos personagens poderosos.
Por que a novela inclui uma batalha contra leucemia?
A escolha traz um tema de saúde pública à tona, permitindo que a trama dialogue com campanhas de prevenção e sensibilização, algo pouco explorado nas novelas dos anos 80.
Quem são os principais responsáveis pela nova versão?
Além de Manuela Dias como roteirista‑executiva, a direção ficou a cargo de Sérgio Rezende, e a produção executiva foi assumida por TV Globo em parceria com a produtora Estúdio Globo.
Quando o spin‑off da família Roitman será lançado?
A emissora anunciou que a série está em fase de pré‑produção e deve estrear no segundo semestre de 2026, com foco na trajetória de Leonardo e nas consequências da doença de Afonso.
Vale Tudo 2.0 mexeu com a gente de um jeito inesperado. A escolha de reviver Odete como finta foi ousada, mas ainda dá pra ver a moral da história crescendo. A gente vê que a justiça tem duas faces, e isso faz a trama mais humana. O final da série trouxe esperança pra quem acompanha há décadas. Ainda tem muita coisa pra debater, mas vale a pena assistir de novo.